Um mês, um departamento, um saber: leituras partilhadas pela professora Isabel Felício

20-11-2013 16:05

Mais uma proposta de leitura da professora Isabel Felício, na semana da Filosofia

Sinopse de “A PESTE”, de Albert Camus

“A Peste” passa-se em Oran, pequena cidade da Argélia, onde a vida é monótona. Os habitantes vivem para o trabalho e para a acumulação de riquezas. Seguem meticulosamente a rotina, inclusive nas questões do coração, com casais que vivem juntos por força do hábito. Não há espaço para devaneios amorosos. “Em Oran, como no resto do mundo, por falta de tempo ou reflexão, somos obrigados a amar sem saber”. Subitamente, a normalidade cai por terra quando os ratos agonizam por toda a cidade. Logo depois, a morte alcança também os moradores.

O romance A Peste, de Albert Camus, foi interpretado por vários críticos como uma alegoria ao nazismo e a todo o regime totalitário. O próprio autor admitia que o conteúdo evidente era a resistência europeia a Hitler. Escrito durante a Segunda Guerra Mundial e publicado em 1947, pela Gallimard, o livro contém alusões à Ocupação ou a ditaduras, como a decretação do estado de sítio na região onde se passa a história – provocado justamente pela medida de exceção – de um dos personagens, o jornalista Raymond Rambert, ser proibido de sair da cidade, um símbolo do cerceamento da liberdade de imprensa.

Se o romance pode ler lido pela ótica da resistência política, também é verdade que abre espaço para uma interpretação de cunho filosófico-existencial. A Peste permite a reflexão, por exemplo, sobre como a iminência da morte relembra ao homem a sua finitude e o faz agarrar com todas as forças a vida, que teme perder a qualquer momento. A dor, o medo e a solidão gerados pela doença podem resgatar sentimentos até então anestesiados pelo quotidiano, como solidariedade, amor e compaixão. A Peste mostra que a perspetiva da morte modifica a postura do homem perante o mundo e a si próprio, redefinindo valores e crenças e gerando perdas e ganhos, como o resgate da essência das relações humanas.  (Clayton Melo)

 

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